sexta-feira, 26 de março de 2010



Ontem a tarde fui no 6º Salão do Livro assistir a uma palestra dada por Viviane Mosé (psicóloga e psicanalista... e tem um quadro no Fantástico). Achei muito interessante, porque diferentemente de muitas palestras que vi por aí, ela faz questão de utilizar uma linguagem simples e acessível, para um tema bem atual... mas que as vezes é meio complicado da gente entender. Complicado porque muita coisa toda não é bem esclarecida, escancarada. Há sempre "panos quentes" por cima.. e a gente vai levando os acontecimentos... somente como acontecimentos. Por isso que muitas vezes não sabemos o que pensamos sobre certas coisas que acontecem. Não fazemos análises. Raramente paramos para fazer uma reflexão e ponte entre o passado e o presente, analisando as mudanças. E foi o que ela fez ao falar da "Mudança de valores no mundo contemporâneo". Um dos argumentos que ela utilizou foi o clássico avanço da tecnologia. Parece meio batido usar isso, e óbvio demais. Mas nesse caso é a mais pura verdade. Hoje a gente tem uma visão mais ampla do mundo, da sociedade e das pessoas graças ao acesso fácil a termos e conhecimentos que antigamente se concentravam nas mãos de pouca gente. A comunicação em rede faz com que estejamos interligados mantendo diversos tipos e níveis de relacionamentos. Isso permite com que vejamos em nós, as possibilidades de erros que os outros possuem e os defeitos que antes só cabiam às vítimas de nossas críticas. Ou seja, ninguém se mantém do mesmo jeito sempre, com os mesmos valores, os mesmo pensamentos. Um dia, nos corrompemos. Ou nos corromperemos. Portanto, ninguém pode definir o que é totalmente certo, ou totalmente errado. A personalidade de cada pessoa está sujeita a estágios de formação e transformação diferentes. Acho que se todos fôssemos criados de maneira igual, estivéssemos culturalmente e economicamente no mesmo nível, aí sim, seria justificável que isso acontecesse.

O fato de eu defender um valor não significa que eu tenha que discriminar/diminuir/menosprezar o valor do outro. Nessa hora entra uma questão chave, que vai determinar o nosso "nível" de respeito, tolerância e amor ao próximo. O conhecimento. Ele faz com que a gente não fique à mercê dos poderosos, dos manipuladores, dos valores e prioridades tão tentadores. O saber abrange nossa mente e faz com que a gente formule ideias, tenha opiniões e não aceite, sem antes ter uma visão crítica e analista sobre o que o sistema tenta empurrar guela a baixo. A gente precisa pensar diferente do que é mostrado na novela, discordar se for preciso do que um repórter diz, ser contra a desistência de lutar por uma possível melhoria na política, não nos contentarmos com o consumismo e com a vida perfeita que o dinheiro e a fama aparentemente possibilitam. Eu gostei demais da palestra da Viviane, porque me fez pensar, me fez construir ideias, ter opiniões a respeito do mundo, das pessoas e de mim mesma. E quanto mais eu olho pra mim, mais consigo compreender porque o mundo está tão corrompido. Porque vejo a possibilidade de eu ser tudo o que eu condeno na sociedade. Sou vulnerável a todos os erros produzidos por políticos corruptos, policiais impiedosos, julgamentos injustos, ao roubo, à usurpação, à calúnia, ao falso moralismo, ao fanatismo, à religiosidade, ao preconceito, ao orgulho, à inveja, à condenação, à superioridade, à indiferença. Mas também vejo algo maior ainda. A vontade de querer lutar pra que essas possibilidades não sejam maiores do que a mudança que pode ocorrer no mundo a partir da minha própria mudança. Isso me dá força, pra não desistir dos meus valores, por mais que eles estejam em decadência. Por mais que eles estejam fora de moda. Por mais que sejam utópicos. Por mais que eles estejam distantes dos valores do mundo contemporâneo.


Lud.

Um comentário:

Marina Kamei disse...

Vida pé no chão. Lutarmos pelos valores que nós achamos que são corretos e não pelos valores que a sociedade dita ser corretos. Lutar pela felicidade que eu acredito que seja felicidade e não a felicidade pregada pelo capitalismo selvagem. Valorizar aquilo que foi perdido um dia por conta de ditaduras impostas por uma sociedade que se acha superior a outra. Hum bela palestra e bela "digerida" sua. Parabéns. Não pare de escrever.